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Saiba quais são as cinco maiores causas de acidentes domésticos com crianças

Atualmente os acidentes constituem a principal causa de morte no Brasil na faixa etária de 1 a 14 anos. Confira quais são as cinco maiores causas de acidentes domésticos com crianças.

Quem tem criança em casa sabe o quão desafiador é o cuidado diário e a necessidade de vigilância constante que eles exigem. Basta dois segundos de desatenção e eles já saíram de onde os colocamos, e lá estão eles expostos ao perigo. Por isso, todo cuidado preventivo com eles é pouco! 

No Brasil, os acidentes são a principal causa de mortes entre 1 e 14 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, sendo que 90% deles são acidentes evitáveis e que em sua maioria acontecem dentro do ambiente domiciliar justamente por ser um local onde as crianças se sentem seguras e estão em desenvolvimento, explorando o ambiente.

Sabendo disso, falaremos aqui sobre os principais acidentes com crianças e algumas maneiras para evitarmos que nossas crianças sejam expostas a esses acidentes.

Quais são esses acidentes domésticos?

As crianças estão sempre expostas a riscos de acidentes. Em sua fase inicial de vida, devido a sua limitação física, e por ainda não possuírem capacidade de julgamento, não conseguem discernir o perigo. 

Já na adolescência, a exposição acontece pelo desejo de testar limites e conhecer novas experiências, bem como em algumas situações, o desejo por copiar alguém que admiram ou até mesmo em “rituais” para que sejam aceitos em grupos. 

Atualmente os acidentes constituem a principal causa de morte no Brasil na faixa etária de 1 a 14 anos. Segundo dados do Ministério da Saúde, por meio do DataSuS foram registrados 1.616 óbitos de crianças por acidentes domésticos nos anos de 2020 e 2021. 

Apesar do número alto, grande parte desses acidentes podem ser prevenidos, com medidas simples.  

O ambiente doméstico é um dos principais lugares onde esses acidentes acontecem, principalmente porque é o ambiente onde eles ficam a maior parte do tempo e por ser o local onde se sentem seguros e estimulados ao desenvolvimento e à descoberta.

Destacamos a seguir, os principais acidentes que são comuns na infância, correspondentes a esses dados estatísticos e a maneira como podemos preveni-los evitando que seu filho, sobrinho, neto, afilhado, ou quaisquer outras crianças que você conviva se exponham a esses acidentes.

1. Afogamento

Normalmente os casos de afogamentos são silenciosos, costumam acontecer naqueles minutinhos que os deixamos sem supervisão. As crianças se sentem atraídas pela água e por isso estão expostas aos riscos de afogamento. Bastam dois minutos submersos na água e a criança já apresenta inconsciência. A partir de 4 minutos, pode ter danos irreversíveis no cérebro. 

Como prevenir acidentes envolvendo afogamentos? 
  • Nunca deixe as crianças sozinhas e sem supervisão próximas ou dentro da água.
  • Converse com seu filho sobre os riscos de estar na água sem supervisão.
  • Sempre que for a passeios com água, leve boias e adeque-as ao tamanho e peso de sua criança.
  • Mantenha piscinas ou áreas com água cobertas, bloqueando o acesso das crianças a elas.
  • Mantenha portas de banheiros e lavanderias sempre fechadas.
  • Não deixe banheiras, baldes, vasos cheios de água e em locais onde as crianças tenham acesso.
  • Mantenha a criança afastada de baldes, tanques, vasos, poços e piscinas. Mesmo um nível baixo de água pode causar afogamento.

Para mais dicas com relação a afogamento, leia o texto que escrevemos sobre Como redobrar cuidados com crianças e evitar afogamentos no verão.

2. Quedas

Que criança que nunca caiu, não é mesmo? Seja causada pela falta de estabilidade motora por conta do desenvolvimento e crescimento ou por uma corrida, brincadeira…. 

Atualmente, 49% das internações infantis são por queda, por isso o cuidado preventivo é tão importante, pois ajuda a minimizá-los e até mesmo contribuem para que nos casos onde a queda seja inevitável, elas tragam o menor dano possível.

Como prevenir quedas:
  • O berço e/ou cercado do bebê devem ter grades altas.
  • Não deixe a criança sozinha em cima de camas, sofás, cadeiras, etc.
  • Não deixe a criança sozinha ou sob os cuidados de outra criança.
  • Use barreiras, grades e redes de proteção em escadas e janelas.
  • Use portões de segurança no topo e na base das escadas e corrimão.
  • Não deixe móveis, cadeiras, ou qualquer outro objeto que seja possível escalar, perto de janelas.
  • Não deixe o bebê em cima do trocador ou sofá, ou cama sozinhos e se ausente para buscar algo. Esteja sempre com uma mão sob ele.
  • Coloque no bebê ou criança sapatos antiderrapantes, principalmente quando estiverem aprendendo a andar.

3. Sufocamento

Diferente do que se pensa, o sufocamento ou asfixia não acontece apenas com o engasgo por leite. Cordões, sacos plásticos, fios, madeira, colchão, cobertor, protetores de berço também podem obstruir as vias respiratórias, causando asfixia.  

É considerada umas das causas mais comuns de morte em crianças de até 1 ano, correspondendo a 71% das causas de morte infantil. 

É claro que quanto menor for a criança, maior o risco, devido sua via área ser menor e também por não conseguirem sinalizar quando algo está interferindo em sua respiração. Porém, qualquer pessoa pode ser vítima de asfixia, seja por corpo estranho, por um alimento que obstrui a via aérea ou até mesmo por um trauma.

Como prevenir situações de sufocamento: 
  • Cozinhe bem os alimentos antes de oferecê-los, e corte-os em pedaços menores.
  • Ensine seu filho sobre a posição de se alimentar, não permitindo que ele beba líquidos ou coma deitado.
  • Evite o contato da criança com peças pequenas, como clipes, botões, moedas e anéis. Ofereça brinquedos grandes e adequados para a faixa etária de cada criança.
  • Bebês devem dormir em colchão firme, de barriga para cima, cobertos até a altura do peito com lençol ou manta presos embaixo do colchão e os bracinhos para fora. O colchão deve estar bem preso ao berço (não mais que dois dedos de espaço entre o berço e o colchão) e sem qualquer embalagem plástica.
  • Remova do berço todos os brinquedos, travesseiros, cobertores, protetor de berço e qualquer outro objeto macio quando o bebê estiver dormindo. Isso ajuda a reduzir o risco de asfixia.
  • Em casas onde a criança dorme junto à adultos, deve-se primeiro inspecionar o local, tomando todas as medidas preventivas para que a criança não se sufoque com lençóis, travesseiros, etc.
  • Brinquedos e roupas com correntes, tiras e cordas com mais de 15 cm devem ser evitados para reduzir o risco de estrangulamento.
  • Mantenha o piso livre de objetos pequenos como botões, colar de contas, bolas de gude, moedas, tachinhas. Tire esses e outros pequenos itens do alcance de crianças.

4. Queimadura 

Existem várias formas de uma criança ser exposta a uma queimadura, desde uma mamadeira com alta temperatura, banheiras muito aquecidas, excesso de exposição solar ou o contato com fogo e superfícies aquecidas. 

Segundo o Ministério da Saúde, em 2019, 21.023 crianças com idade de zero a 14 anos foram hospitalizadas vítimas de queimaduras. Em 2018, 200 crianças dessa faixa etária morreram por esse motivo e, desse total, 73 tinham entre um e quatro anos de idade.

Como prevenir queimaduras: 
  • Mantenha crianças longe de fogos, panelas e locais aquecidos.
  • Cozinhe sempre com os cabos da panela virados para o lado interno do fogão, evitando que as crianças puxem e entornem o líquido sobre o corpo.
  • No banho, fique atento(a) à temperatura da água (a ideal é 37 ºC).
  • Confira a temperatura dos alimentos ofertados, caso a criança não esteja sendo alimentada exclusivamente com o leite materno.
  • Evite cozinhar, transportar objetos aquecidos ou fumar quando estiver com uma criança no colo.
  • Fique atento(a) ao forno ligado, ferro de passar roupas, chapinha de cabelos, modelador de cachos, aquecedor e outros equipamentos quentes.
  • Nunca deixe uma criança manipular objetos inflamáveis, principalmente o álcool que é considerado um dos principais causadores de queimaduras graves em crianças.
  • Mantenha tomadas protegidas, impossibilitando a utilização e o toque das crianças. Podem ser protegidas por tampas apropriadas, esparadrapo, fita isolante ou mesmo cobertas por móveis.

5. Intoxicação

Há uma fase do desenvolvimento infantil chamada de fase oral, onde a criança leva tudo à boca como uma maneira de conhecer e experimentar o mundo. 

Eles são capazes de enxergar desde o mordedor, até aquela pulseira tão querida, perdida no chão. Assim como a fase oral, explorar ambientes é um dos processos do desenvolvimento infantil, e por isso são facilmente atraídas por frascos e líquidos coloridos. 

Por isso, o cuidado no armazenamento de medicamentos, produtos de limpeza, shampoos, entre outros, precisa ter um olhar mais atento por parte dos responsáveis.

Crianças podem ser envenenadas por muitos produtos domésticos comuns, como produtos de limpeza, cosméticos, bebidas alcoólicas, plantas, corpos estranhos, brinquedos, pesticidas, produtos de arte, tintas, álcool, medicamentos e vitaminas.

Como prevenir situações de intoxicação: 
  • Armazene produtos de limpeza em locais com tranca e o mais alto possível, para evitar que tenham contato.
  • Nunca dê remédios que não tenham sido prescritos pelo profissional de saúde e fique atento aos prazos de validade de cada medicação.
  • Oriente a criança sobre os produtos e os riscos a que está exposta.
  • Sempre leia os rótulos e bulas e siga corretamente as instruções ao dar remédios às crianças, baseando-se em seu peso e idade. Use apenas o medidor que acompanha as embalagens de medicamentos infantis.
  • Priorize sempre produtos de limpeza com rótulos e com certificação.
  • Certifique-se de que os ambientes em que a criança tem contato, bem como os brinquedos são feitos de material que não favoreçam ou gerem intoxicações.

(Bônus) 6. Acidentes de trânsito

Atualmente acidentes de trânsito são a principal causa de morte infantil. De acordo com o Ministério da saúde, em 2018 680 crianças morreram vítimas de acidentes de trânsito e, em 2019, 8.704 foram hospitalizadas.

As crianças são o grupo mais vulnerável aos acidentes por alguns fatores: seu desenvolvimento ainda está em andamento, logo, seu corpo é frágil; é facilmente lançado e lesionado; entre outros fatores.

Atualmente, a legislação brasileira nos orienta a utilizar dispositivos de segurança para transportar crianças em veículos. Orienta ainda que todas as crianças até 10 anos de idade sejam transportadas na parte traseira dos veículos e crianças de 0 a 7 anos utilizem dispositivos de retenção veicular, como bebê conforto, cadeirinhas infantis e assentos. Sua utilização pode reduzir em até 71% as chances de uma criança vir a óbito em um acidente de trânsito.

Como prevenir mortes causadas por acidente de trânsito:
  • Utilize sempre os dispositivos de segurança, adequando-os à idade de sua criança.
  • Opte por dispositivos de segurança que sejam devidamente legalizados e certificados pelo Inmetro.
  • Não transporte crianças no banco da frente, mesmo que em curtas distâncias. Nunca se sabe quando você sofrerá um acidente, além da chance do airbag machucar severamente a criança durante seu acionamento por colisão.

Conclusão

É possível perceber o quanto os acidentes podem acontecer em ações simples da nossa rotina e o quanto as crianças são vulneráveis a elas, além da necessidade de ações efetivas de prevenção e constante vigilância. 

Embora sejam extremamente importantes, vimos o quão simples essas medidas podem ser e o seu impacto na redução dessas taxas de acidentes.

Agora que você já sabe um pouco mais sobre esse assunto, não apenas pratique essas ações, dissemine isso a todos que você conhece, quanto mais pessoas tiverem acesso às informações e agir preventivamente, menores serão as taxas de acidentes e mortalidade infantis.

Escrito por
Patrícia Esteves

Enfermeira cursando MBA em cuidados ao paciente grave, Patrícia possui seis anos de experiência em atendimento hospitalar e atenção básica, com iniciativas de orientação em saúde nas escolas através de ministração de palestras e oficinas.

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