Saúde mental

Setembro Amarelo e os cuidados com a saúde mental de adolescentes

Adolescentes podem demonstrar desde a primeira infância sinais de transtornos mentais e desenvolver depressão infantil. Confira quais sinais servem de alerta para a família e para a escola e saiba como intervir para ajudar.

A saúde mental tem sido nos últimos tempos alvo de grande interesse de pesquisas e estudos. Ela é uma condição que nos permite lidar com nossas emoções, nossos sentimentos e com os nossos desafios diários.

Inserida no conceito de saúde, a OMS (Organização Mundial de Saúde) define saúde mental como “um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade”.

E o mês de setembro ocupa um papel importante na promoção da saúde mental e da luta diária dessa busca através da Campanha “Setembro Amarelo - Mês de Prevenção ao Suicídio”. 

A campanha iniciada no Brasil em 2015 em parceria do Conselho Federal de Medicina, o Centro de Valorização da Vida e a Associação Brasileira de Psiquiatria, tem como objetivo combater e prevenir o suicídio através da ampliação do debate sobre o assunto, conscientizando a população e assim evitando que o suicídio aconteça.

O slogan da campanha “Falar é a melhor solução” tem como ponto central desfazer alguns dos tabus que envolvem a temática. Sendo assim, a conscientização da população  é considerada uma importante forma de prevenção. O lema da campanha desse ano, em 2022, reitera a importância: “A vida é a melhor escolha”.

Os dados de suicídio no Brasil são alarmantes: de acordo com pesquisas da OMS, 32 pessoas se suicidam diariamente, o que significa que o suicídio mata mais brasileiros que o câncer.  Ainda segundo a OMS, o suicídio é a quarta causa de morte em pessoas entre 15 e 29 anos. 

Embora estejamos no mês de setembro e este simbolize o mês de combate ao suicídio, precisamos estar atentos e entender que em mais de 90% dos casos, as ideias suicidas não se estabelecem repentinamente. 

Os casos de suicídio apresentam estreita relação com transtornos mentais. Pesquisas indicam que 75% das pessoas que cometem suicídio no Brasil são portadoras de transtornos mentais. E desses, o maior índice está relacionado à depressão, seguidos de transtorno bipolar e esquizofrenia.

E por que amarelo? Por que setembro?

Essa campanha se iniciou nos Estados Unidos com a história de um rapaz de 17 anos, Mike Emme, jovem visto como carinhoso e alegre pela família e amigos. 

Mike se suicidou em setembro de 1994, sendo encontrado morto dentro de seu Mustang amarelo sem que as pessoas próximas percebessem que algo vinha acontecendo com ele a ponto dele tirar sua própria vida. 

Mike era um rapaz com uma habilidade mecânica diferenciada. Comprou um Mustang 1968 e o restaurou por inteiro, pintou de amarelo, ficando conhecido como rapaz do Mustang  amarelo.

No velório, seus pais, em desespero, resolveram homenagear o rapaz. Refletindo sobre não perceberem sinais no filho, e querendo salvar outras vidas, levaram uma cesta com cartões e fitas amarelas onde estava escrito: “Se precisar, peça ajuda”. 

Os amigos do jovem ficaram encarregados da distribuição e os cartões foram entregues a pessoas até serem destinados aquelas que precisavam de apoio. A ação foi amplamente divulgada e se espalhou pelos Estados Unidos. Desde 2003. 

O laço de fita amarelo e o mês de setembro passaram a representar o símbolo de uma campanha que incentiva quem tem pensamentos suicidas a procurar ajuda. 

Identificar para combater

Suicídio é um problema de saúde pública e como tal precisa ser encarado, pois as pesquisas  da OMS em torno do assunto revelam que a cada 40 segundos alguma pessoa morre por suicídio em algum lugar do mundo. É preciso deixar de lado o tabu que acompanha o tema. 

Para reverter o quadro e evitar a perda de mais vidas, é necessário oferecer à pessoa uma rede de apoio que a acolha e direcionar a profissionais especializados, dentre eles,  psicólogos e os psiquiatras, os mais indicados para esse processo.

Por outro lado, é importante entender que nem toda tristeza e até mesmo depressão vai levar ao suicídio. As causas são múltiplas e a maioria dos casos derivam de doenças mentais. Contudo, o desespero e a impulsividade em pessoas que não apresentam transtornos mentais podem gerar pensamentos e ações suicidas.

Para eliminar a dúvida, alguns fatores devem ser analisados. A pessoa que pensa sobre suicídio costuma apresentar esses pensamentos de forma recorrente e insistente, perdendo a noção de que existem outras maneiras de enfrentar o problema, distorcendo sua percepção. 

Falar sobre o assunto também contribui para circular informação sobre os sinais e para que pessoas próximas possam identificá-los. Quando isso acontece, se colocar disponível a ouvir com empatia e ausência de julgamentos é primordial, pois, possibilita que a pessoa em sofrimento se sinta acolhida e respeitada.

Suicídio na infância e adolescência

Sabemos que o suicídio não faz parte do universo infantil. Todos os estudos em torno do assunto revelam que crianças raramente apresentam autonomia suficiente para cometerem suicídio, o que já é substancialmente diferente quando nos referimos aos adolescentes e jovens.

No entanto, as crianças podem demonstrar desde a primeira infância sinais de transtornos mentais e podem sim desenvolver depressão infantil. Alguns sinais podem servir como alerta, e tanto a família como a escola devem estar atentos a eles e o quanto antes intervir para auxiliar a mudar essa realidade. Alguns dos sinais mais significativos são:

  • Alterações do sono, que podem incluir insônia, agitação, pesadelos frequentes ou sono excessivo
  • Alterações na alimentação, como falta de apetite, compulsão alimentar ou fome em excesso
  • Baixa autoestima e desvalorização de si
  • Agressividade de forma acentuada e inapropriada
  • Perda da vontade em realizar as atividades que antes gostava
  • Isolamento 
  • Crises de choro repetidos 
  • Desinteresse e desadaptação escolar 
  • Medo, preocupação e tensão de forma exacerbada
  • Apatia 

Esses mesmos sinais devem ser observados quando nos referimos aos adolescentes, acrescidos de:

  • Uso de drogas e álcool 
  • Visão e discurso pessimista em relação ao futuro
  • Sensação de ouvir vozes  
  • Distorção da realidade, sentimentos persecutórios frequentes e ideias fantasiosas 
  • Sinais de automutilação 

E o que a escola e a família podem fazer para evitar ou diminuir o suicídio?

Antes de tudo, precisamos entender que prevenir é a melhor forma de combate. E isso acontece, cuidando da saúde mental das nossas crianças, dos jovens e de todos nós. Da mesma forma que é importante cuidar da saúde física, é da mesma forma importante cuidar da nossa saúde mental, pois juntas, elas formam o conceito de saúde.

As crianças e jovens, por ainda estarem em desenvolvimento, necessitam ainda de mais cuidados. Em situações em família ou na escola, algumas práticas são essenciais para garantirmos boas condições de saúde mental:

Permita que eles se expressem

Tanto em casa quanto na escola, a sensação de ser ouvido, de falar de seus sentimentos, de poder emitir opiniões, de dizer o que lhe aflige e ser acolhido em relação ao que está expressando sem críticas ou julgamentos é fundamental para que a pessoa se sinta respeitada e valorizada.

Evite sobrecarga

Evite a sobrecarga de atividades e preocupações. Crianças e jovens precisam de tempo livre para poder descansar, criar, brincar e para escolher e decidir o que fazer em determinado momento. 

Da mesma forma, elimine a sobrecarga de preocupações com trabalhos em excesso e compromissos, entre eles, estabelecendo um caráter leve às avaliações. Essas últimas podem ser trabalhadas pelas famílias e pelas escolas como uma continuidade e uma expressão do que aprendeu sem valorização excessiva quanto a desempenho.

Organize uma rotina e informe sobre o que está acontecendo

Essa conduta de antecipação e rotina contribui para evitar sentimentos de ansiedade porque além da criança já ter estabelecido uma noção do que vai acontecer, também evita pensamentos fantasiosos que estimulam a ansiedade.

Esteja atento aos sinais de que algo não está bem

E caso algum sinal seja identificado, a família ou a escola podem se aproximar e dar voz à criança ou adolescente com empatia e sem julgamentos ou desvalorização. Aquilo que pode ser simples para uma pessoa, pode ser diferente para outra. Perceber e oferecer auxílio profissional pode ser uma estratégia mais assertiva.

Cuide da própria saúde mental

Esteja certo de que precisamos cuidar de nós para podermos cuidar de alguém. Dessa forma, os pais e profissionais da escola precisam estar atentos e cuidando da sua própria saúde mental.

Os cuidados com a saúde de todos nós, desde crianças até adultos, são fundamentais para que se possa lidar com as situações que são desafiantes no nosso dia a dia. Cuidar de cada um de nós, das pessoas que nos rodeiam, é fundamental para que se viva com liberdade e aceitação das emoções. 

Sentimentos como tristeza, raiva, medo, entre outros, são naturais. Aceitá-los, poder falar sobre eles e ser acolhido sem julgamentos prévios são condições fundamentais para valorização das pessoas em sofrimento psíquico.

Cuidar da saúde mental é cuidar da qualidade de vida e desde muito cedo nossas crianças e jovens, assim como nós adultos, podemos focar em estabelecer boas práticas que estimulam e promovem bem estar. Para tal, é importante pensarmos em algumas dicas além das citadas anteriormente, que podem favorecer nossa condição de saúde em todas as idades: 

  • Pratique exercícios físicos regulares.
  • Promova e vivencie momentos de lazer e descanso, inclusive com familiares, com colegas, com amigos.
  • Cuide de sua alimentação e do seu sono.
  • Reforce laços com pessoas que te façam bem.
  • Organize sua rotina, essa organização é fundamental para diminuir picos de ansiedade.
  • Busque se autoconhecer, facilita o conhecimento de seus limites, de suas necessidades e prioridades.
  • Tente falar, reconhecer e nomear seus sentimentos.
  • Tenha momentos de autocuidado e de foco em ações que gerem prazer e satisfação.
  • Não tenha vergonha de buscar auxilio em pessoas próximas ou profissionais quando sentir necessidade.
  • E além de todas essas, carregue dentro de você e pulverize ao seu redor o sentimento base da campanha de 2022: “A vida é a melhor escolha”.

Conclusão

Embora o mês de setembro seja referencial para que o tema seja mais abordado, é inegável que o assunto merece cuidado em todos os meses do ano e mais precisamente em todos os momentos da vida.

Desmistificar e quebrar tabus em torno do suicídio e das doenças mentais, entendendo sobretudo que nem toda doença mental vai cursar com ideação suicida mas que qualquer uma delas é condição de sofrimento, torna-se necessário para que ações como a do setembro amarelo se estendam ao longo do ano. 

Quando uma pessoa em sofrimento se vê acolhida, se sente encorajada a não desistir de si mesma. E isso é tarefa de todos nós, envolvidos com o mundo ao nosso redor.

Nenhum de nós sozinho é capaz de mudar o mundo. Mas se pudermos fazer algo por quem está ao nosso lado, atingiremos um alcance maior e criaremos uma rede de acolhimento, empatia e a percepção de que somos seres relacionais e precisamos uns dos outros. 

Não podemos esquecer que o lema da campanha de 2022 é “A vida é a melhor escolha”, e  como tal, merece ser uma escolha de todos e para todos.

Referências

https://www.setembroamarelo.com

https://www.setembroamarelo.org.br

https://bvsms.saude.gov.br

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Escrito por
Claudia Ferreira

Psicóloga pós-graduada em Psicopedagogia, Claudia possui 30 anos de experiência em psicoterapia com foco em crianças e adolescentes. Desde 2010, atua como psicóloga da rede de ensino Pensi (Eleva), no Rio de Janeiro.

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