Leitura e escrita são processos complementares fundamentais para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças.
Enquanto a leitura é a grande responsável pelo desenvolvimento da habilidade de decodificar palavras escritas e pela capacidade de compreender textos escritos, a escrita representa um processo de expressão de ideias e de organização do pensamento.
Nesse artigo vamos te apresentar quais são as principais habilidades desenvolvidas pela leitura e escrita nas crianças, além de dicas sobre como a família e a escola podem estimular o interesse por essas atividades. Vamos lá?
Como acontece o processo de aprendizagem das crianças
As crianças iniciam o seu processo de construção de linguagem desde o nascimento. Nas primeiras interações o bebê já começa a construir um canal de comunicação com o mundo externo.
Pouco a pouco, ele descobre que a repetição e a imitação de alguns sons vão produzindo significado. À medida que as situações acontecem, ele começa a compreender o que é a língua e para que ela serve.
Por exemplo, quando bebê, ainda se forma puramente experimental e sem sentido, balbucia algo que de imediato é reforçado e atribuído significado por quem está ao seu lado.
Nesse contínuo de interações, a criança vai conseguindo aprimorar sua comunicação e desenvolvendo habilidades que contribuem para posteriormente chegar à aquisição da linguagem escrita: ler e escrever.
O universo da leitura e da escrita se apresenta para criança muito antes dela conseguir desenvolver essa competência. Ao ouvir um adulto lendo uma história, ao ver alguém escrever algo em um papel e até mesmo nas telas digitais a criança começa a perceber a função de comunicação e autonomia desse processo.
E essa é uma questão fundamental para que a habilidade se estabeleça e sem a qual esse mundo das palavras não conseguiria ter sentido: o desejo de comunicação e pertencimento ao mundo que a criança está inserida.
Para tal, além do desejo, é necessário o desenvolvimento de habilidades e competências anteriores como consciência fonológica, motricidade ampla e fina, leitura de mundo, sensopercepção, entre outras, que são trabalhadas nas escolas desde os anos iniciais da Educação Infantil.
E isso acontece de forma lúdica, sem nenhuma necessidade de trabalhos reproduzindo ou copiando palavras que quando introduzidas antes dessa base sedimentada, podem atrapalhar um processo que ocorre de forma espontânea.
Importante ressaltarmos que cada criança tem seu tempo e busca a aprendizagem da leitura e escrita conforme suas necessidades e oportunidades. Frank Smith, psicolinguista canadense, em seu livro: ”Compreendendo a leitura” ressalta que a criança se torna leitora quando está engajada em situações onde a linguagem escrita a eles apresentada é utilizada de forma significativa, onde possa relacionar os materiais de leitura a suas experiências e conhecimento prévio, reproduzindo a mesma dinâmica de quando aprendem a falar.
Leitura e escrita são processos diferenciados, porém complementares, fundamentais para aprendizagem e o desenvolvimento das crianças. Magda Soares no livro “Alfabetização e letramento” conceitua a leitura como “um conjunto de habilidades e conhecimentos linguísticos e psicológicos, estendendo-se desde a habilidade de decodificar palavras escritas até a capacidade de compreender textos escritos.”
Diferente da leitura, a escrita “compreende a habilidade de simplesmente transcrever sons até a capacidade de comunicar-se adequadamente com um leitor em potencial. Escrever é um processo de relacionamento entre linguagens sonoras e símbolos escritos, e também um processo de expressão de ideias e de organização do pensamento sob forma de escrita”.
Habilidades desenvolvidas pela leitura e escrita
O hábito da leitura e da escrita são fatores essenciais para a aprendizagem das crianças porque desenvolvem:
Autonomia
A criança consegue através da leitura e da escrita se comunicar de forma muito mais ampla, não precisando recorrer aos adultos para ter acesso ao que a interessa.
Concentração
As crianças desenvolvem a concentração, já que precisam fixar a atenção para conseguir reter as informações necessárias para o entendimento do texto e organizar as ideias para representá-las de forma escrita.
O desenvolvimento da concentração beneficia outras áreas, e favorece a realização de outras tarefas, como por exemplo, avaliações e trabalhos escolares.
Capacidade criativa
Quando a criança mergulha em um texto, ela se coloca na história e se projeta nela, o que contribui para que ela imagine o contexto, o cenário, o desfecho e todos os elementos que a compõem.
Ela pode ir longe, imersa na sua imaginação sem limite. No futuro, na vida adulta, essa habilidade pode possibilitar uma saída diferente para um problema ou até mesmo mostrar pontos de vista diferentes em uma mesma situação.
Compreensão
À medida que a criança é estimulada a ler, ela desenvolve com mais facilidade o senso de compreensão de um texto e faz uso da organização das ideias nos momentos que for fazer uso da escrita.
Aumento do vocabulário
Quanto mais a criança lê, mais acesso ela tem a diferentes palavras que proporcionarão uma maior assimilação e armazenamento de vocabulário e consequentemente uma riqueza no repertório quando for utilizar a escrita.
Interpretação de texto
Também favorece o desenvolvimento da interpretação de texto, fazendo com que ela compreenda com mais facilidade os enunciados e realize associações, condição fundamental para o aprendizado de outras disciplinas, como Matemática, Física e até mesmo um melhor desempenho em provas como a do ENEM.
Pensamento crítico
Através da leitura, a criança obtém acesso a informações que se transformam em conhecimento e propiciam reflexões e o raciocínio lógico. Dessa forma, ele estabelece uma posição mais ativa no seu processo de aprendizagem, que contribui na formulação de argumentos mais fundamentados.
Aumento do conhecimento do mundo
Através da leitura e da escrita os alunos têm acesso a outras culturas, outros valores, crenças e hábitos da sociedade. Esse acesso influencia a forma de agir e de pensar de uma criança.
Percepção de sentimentos e emoções
A leitura possibilita que a criança entenda seus sentimentos e busque formas de lidar com eles, sendo um importante recurso para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos alunos. A empatia e o fortalecimento de vínculos são estabelecidas a partir das possibilidades de percepção de si projetadas nas histórias.
A partir de que idade a leitura pode ser estimulada?
Não existe idade para iniciar essa estimulação às crianças, já que antes de iniciar escolarização, desde os primeiros meses de vida, elas descobrem a extensão desse processo a partir da observação, da imitação e do compartilhamento de momentos em família.
Desde bebê, a criança pode ser apresentada a livros de banho que promovem experiências sensoriais que estimulam a visão, a audição e o tato. É muito comum nos dias de hoje nos depararmos com bebês que quando diante de tablets e celulares reproduzem com o dedo indicador o movimento de touch das telas, imitando seus familiares.
Ao ingressar na escola, a criança recebe um reforço ainda maior desse estímulo através de uma diversidade de livros, ferramentas apropriadas ao seu estágio de desenvolvimento cognitivo e afetivo. Livros coloridos, contações de histórias, rodas de leitura compartilhada, além das trocas de informações escritas entre a família e a escola são exemplos de alguns desses momentos que podem se tornar preciosos.
Já no final da Educação Infantil e início do EFAI, as crianças já percebem a relação entre as letras e sons. Algumas já estão fazendo leitura de trechos bem curtos e de construção da escrita regular das palavras, iniciam a escrita dentro de suas possibilidades e o desejo por histórias que reproduzam sua realidade e oferecem a possibilidade de exercitar através das histórias soluções para resolução de seus desafios do dia a dia.
Na continuidade do EFAI até o ingresso no EFAF as crianças apresentam fascínio pelos livros de aventura e ficção científica, e personagens que representam poder e superação. Marcados pela luta entre o bem e mal, pelos dilemas morais, exercitando através de histórias o amadurecimento cognitivo e emocional que os introduzem em nova etapa de desenvolvimento.
Já no ingresso ao EFAF e EM, essa etapa constitui o maior desafio em despertar o desejo dos adolescentes pela leitura e pela escrita. Nessa fase, é importante que os estudantes percebam que a leitura proporciona a expansão de novos pontos de vista de um mesmo tema e que proporciona ir muito além dos objetivos de interpretação das questões do ENEM ou de redações formuladas dentro do modelo estabelecido pelo exame.
Qual o papel da família e da escola no estímulo da leitura e da escrita?
Já vimos o quanto a leitura e a escrita são processos complementares e fundamentais para o desenvolvimento das crianças. Mas também precisam ser complementares a participação das famílias e da escola no oferecimento e na estimulação de uma relação positiva com a leitura e a escrita.
Escola e família precisam cada qual em seu papel propiciar naturalidade nessa construção. Engana-se quem pensa que os meios digitais não sejam formas reconhecidas de estímulo a essas habilidades. Atualmente, podemos fazer uso de ferramentas e inovações tecnológicas que aliadas aos métodos mais convencionais ampliam as possibilidades de oferecimento de vivências que estimulam o interesse da criança.
Como a família pode contribuir
O hábito da leitura faz com que a criança escreva com mais propriedade. Quanto mais cedo a família introduz esse hábito, mais fácil a criança conseguirá levar para a vida adulta.
Algumas estratégias são fundamentais para que esse processo aconteça de forma espontânea.
- Seja referência. Pais devem ser modelos de leitura para seus filhos.
- Realize passeios como visitas a livrarias, bibliotecas, feiras de livros, bienais, etc.
- Presenteie com livros.
E a escola, como pode contribuir?
Em épocas de acesso a informações cada vez mais instantâneas e alunos conectados a novas tecnologias é um desafio conseguir despertar a curiosidade e o desejo dos alunos pela leitura.
A principal lembrança que os educadores precisam ter nesse momento é de que sem desejo a aprendizagem não se faz significativa.
- Ofereça aos alunos diferentes tipos de texto e trabalhe em torno dos contextos que eles foram produzidos. A contextualização aproxima o texto do aluno e facilita a construção do sentido ao que está sendo lido.
- Ultrapasse as fronteiras da leitura e dramatize, ou então crie cenários de discussão em torno de textos e situações que incentivem a reflexões, o respeito pelas diferentes opiniões e a construção de noções de cidadania e ética.
- Promova eventos como saraus, concursos literários, oficinas de expressão criativa, jornais, e outros eventos que também podem ser realizados com uso de tecnologia e práticas inovadoras.
- Apresente plataformas digitais e ferramentas que estimulem o protagonismo das crianças.
- Monte um clube de livros onde os alunos possam trocar livros e experiências além de apresentarem para os colegas uma pequena “resenha” sobre o livro lido.
- Proponha trabalhos de campo a partir de textos, livros, artigos, blogs e incentive o trabalho interdisciplinar.
Conclusão
Trabalhar com os estudantes de forma a despertar esse desejo pelo mundo letrado é tarefa da escola em conjunto com as famílias. Muito mais que aprender a ler e escrever, a alfabetização e o letramento são importantes ferramentas de socialização e cidadania, e introduzem verdadeiras oportunidades de formação de sujeitos conscientes de si e do seu papel no mundo que está inserido.
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