A chegada do Dia das Crianças traz um tema polêmico: tem sido cada vez mais frequente nos depararmos com crianças e jovens pedindo para serem presenteados com videogames e eletrônicos.
Da mesma forma, vemos crescer o número de pais e familiares se questionando sobre serem esses os presentes indicados para nossas crianças e adolescentes e, sobretudo, se esses são heróis ou vilões no processo de desenvolvimento dessa faixa etária.
Para fazermos uma análise acerca do tema, precisamos ponderar os benefícios e malefícios do uso desse tipo de tecnologia. Vamos lá?
Heróis ou vilões?
Não é nossa pretensão indicar ou reprovar essas escolhas, tampouco querer resolver a dúvida relacionada ao assunto, até porque essas respostas são individuais e de acordo com os valores de cada um.
O que sim, temos pretensão de conseguir fazer, é discutir qual papel os videogames e eletrônicos podem adquirir no processo de desenvolvimento de nossas crianças e jovens e ainda se, enquanto profissionais que trabalham com Educação e Desenvolvimento, percebemos benefícios ou prejuízos na relação das crianças e jovens com eles.
Percebemos que estamos vivendo um momento de muita velocidade de informações. Será que podemos considerá-las aliadas do processo de aprendizagem? A educação também está submetida à essa velocidade.
A todo momento os professores necessitam de atualizações de como conseguir tornar o aprendizado de seus alunos eficiente e interessante. Por isso, precisam acompanhar essa modernização.
O uso de jogos e videogames na aprendizagem
As escolas têm se deparado, dia após dia, com uma velocidade também enorme de novas metodologias de ensino. O modelo tradicional, ao qual fomos acostumados e nos parece “velho conhecido” demonstra esgotamento.
A cada dia, um número maior de profissionais tem aberto mão desse formato e lançado novas estratégias para aproximar a escola de seus alunos e seus alunos dos seus processos de aprendizagem. Dentre elas, o uso de videogames e programação.
Nos últimos anos, temos visto que os professores solicitam e introduzem os games em seus trabalhos. Temos vistos que escolas oferecerem “disciplinas eletivas” de games como possibilidade para seus alunos aprofundarem os conteúdos de seu interesse. E quando isso acontece, tem se revelado uma eletiva de grande interesse dos alunos.
Ao utilizar essa dinâmica dos jogos, a escola tem impulsionado um maior compromisso dos alunos que, diante da proposta, desenvolve as habilidades socioemocionais como sociabilidade, autonomia, criatividade, capacidade de resolver problemas, etc...
Além de todas essas, a tecnologia tem sido a área de maior interesse das nossas crianças e jovens, os quais já nasceram em uma era digital e, por isso, apresentam habilidade e facilidade no manejo, o que, sem dúvidas, interfere na motivação em relação ao universo dos videogames.
Essa prática também já vem sendo adotada em escolas na Educação Infantil. O objetivo não é substituir as outras necessidades essenciais – como estimular coordenação motora ampla e as relações entre as crianças – mas ser, além disso, mais uma ferramenta para desenvolver outras habilidades como: persistência, percepção visual, espacial, desenvolvimento cognitivo de forma geral. Eles podem facilitar a alfabetização, a noção de números, de quantidade, entre tantas outras possibilidades.
No entanto, costumamos ouvir críticas contundentes em relação a utilização de videogames e, até mesmo, abrangendo os eletrônicos de forma geral.
O que diz a ciência?
Na literatura cientifica, não encontramos pesquisas que comprovem que os jogos dispersam a atenção, estimulam a violência ou inibem o processo de criativo de crianças e jovens.
Pelo contrário, encontramos artigos e textos que confirmam a possibilidade de desenvolvimento de habilidades cognitivas e um alinhamento ao processo de aprendizagem, já reconhecido e utilizado no meio escolar.
Existem muitas pesquisas demonstrando a eficácia, além de entretenimento. Pesquisas que reforçam a ideia de que, na busca de um objetivo, desenvolvem atenção concentrada, além de favorecer a participação de trabalhos em grupo.
Na área de saúde, os videogames vêm sendo utilizados como recurso em terapias físicas e psicológicas, com melhora nos resultados, além de reduzir a percepção de dor e a maneira com que cada paciente lida com suas condições, tanto a nível de aceitação de limitações, quanto de reconhecimento de seu potencial e possibilidades.
Mas, afinal, quais os benefícios de jogar videogames?
- Entretenimento – Possibilita um momento de diversão, de relaxamento e de vivenciar momentos de prazer.
- Estimula as funções cognitivas – Ativa simultaneamente várias áreas cerebrais.
- Estimula o protagonismo – O jogador precisa colocar “a mão na massa” para conseguir superar o desafio proposto pelo jogo.
- Desenvolve a tolerância a frustração, além da oportunidade de aprender com os erros e fazer diferente.
- Desenvolve a capacidade de resolver problemas, a partir do momento que precisa superar os desafios para passar à etapa seguinte.
- Estimula a persistência – O esforço e a possibilidade de recomeçar e buscar novas estratégias influenciam a motivação para continuar.
- Incentiva a tomada de decisões.
- Ensina a calcular riscos – Em alguns momentos arriscar e tentar buscar entre alternativas que possibilitam perdas e ganhos maiores ou menores.
- Estimula interação social – Pode ser jogado em grupo com regras que favorecem o respeito e o espirito de equipe.
- Desenvolve autoconfiança – Conseguir superar obstáculos e conseguir os resultados desejados oferecem oportunidades para desenvolver o sentimento de se ver capaz e seguro.
- Estimula os reflexos e coordenação motora - As tomadas de decisão rápidas e sincronizadas desenvolvem os reflexos e a percepção visomotora.
- Em família, promove momentos de lazer e proximidade, possibilitando momentos de descontração, lazer e promovendo intimidade.
Acabamos de listar todos os benefícios que os videogames conseguem alcançar. Mas se todas essas possibilidades podem ser obtidas, qual o motivo de tanta crítica em torno desse mundo dos games?
E os malefícios? Existem?
O videogame por si só não tem a função de fazer mal a nenhuma criança ou adolescente. Porém, como qualquer outra atividade prazerosa, pode desenvolver o vício se usado de forma desorganizada e excessiva.
Ele tem o objetivo de ser mais uma possibilidade de diversão e desenvolvimento tanto cognitivo quanto emocional, que alia diversão a tecnologia, desde que não seja um substituto à outras opções que fazem parte do universo das crianças e jovens, como brincar de correr, cantar, jogar jogos analógicos, desenhar, dançar etc...
Outro ponto importante reside na inadequação de alguns jogos em relação à faixa etária da criança ou adolescente. E cabe aos adultos supervisionar e participar da escolha dos jogos. Isso pode inclusive desenvolver mais parceria da criança com o adulto, dependendo da maneira que isso é realizado.
Um aspecto também relevante nesse processo é que o jogo eletrônico não pode interferir na rotina desse público. Rotina é fundamental, traz equilíbrio, diminui a ansiedade. Sendo assim, a melhor forma do jogo eletrônico não adquirir uma função negativa é ser utilizado sob a supervisão de um adulto, sobretudo, no limite de tempo diário.
Como os pais podem utilizá-lo de forma a contribuir para o desenvolvimento das crianças e jovens?
A palavra chave dessa resposta é equilíbrio. Esteja atento a escolha dos jogos. Dê preferência a jogos educativos.
Coloque limite no número de horas de utilização. Regras e limites são importantes e podem ser até construídos em conjunto com as crianças e jovens.
Esteja atento à faixa etária indicada nos jogos.
Dê preferência por escolas que conheçam a importância da tecnologia e a utilizem na proposta pedagógica.
Participe dos jogos com eles e experimente esse universo. Essa iniciativa pode ser valiosa para gerar intimidade, proximidade e momentos descontraídos em família.
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