Saúde e bem-estar

Introdução Alimentar: O que diz a nova diretriz da OMS

Na última semana, a Organização Mundial de Saúde lançou novas recomendações sobre a introdução alimentar para bebês amamentados e não amamentados. A proposta é prática e ampla, utiliza evidências, e tem preocupação no conflito de interesses nas recomendações da alimentação complementar.
mãe alimentando seu bebê dando mamadeira com leite

Já que aqui na Coala, é tudo sobre as crianças, nossa equipe de especialistas em nutrição preparou um artigo para você entender exatamente o que mudou nas diretrizes da OMS para esse tema tão relevante para as famílias e escolas.

A fase de introdução alimentar vai de seis meses de idade até 23 meses, e é um período fundamental para se criar padrões alimentares saudáveis de longo prazo. É importante para evitar problemas de saúde na criança, como obesidade e problemas alimentares, além de garantir um crescimento saudável.

Apesar do cuidado metodológico nas recomendações, alguns autores mostram que existem limitações nas evidências. Por exemplo, para situações como prematuridade, baixo peso ao nascer, crianças com doenças alérgicas e alterações neurológicas.

Antes dessa discussão, é importante enfatizar a recomendação de leite materno até 2 anos ou mais, exclusivo até o 6º mês de vida. Sabemos que nem sempre isso é possível. Afinal, estatísticas mostram que o aleitamento materno exclusivo (AME) em crianças abaixo de 6 meses tem taxa de 46% no Brasil. Os outros 54% já consomem outra fonte de leite (fórmulas ou leite de outros animais).

bebe engatinhando ao fundo e mamadeira com leite na frente

A Diretriz da OMS, aprovada pela Academia Americana de Pediatria, atualiza a comparação entre fórmulas para bebês e o leite de vaca para crianças.

A maioria das recomendações já estava no nosso Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos, do Ministério da Saúde, sem grandes surpresas.

Vale ressaltar que os documentos têm abordagens diferentes. Enquanto o material da OMS foca na diversidade mundial, nosso Guia Alimentar trata, com proximidade, da realidade, hábitos e costumes do Brasil. Por isso há diferenças entre essas publicações, como a introdução dos sucos naturais. O que mais chamou a atenção na nova diretriz foi a questão das fórmulas infantis e o leite de vaca.

Os profissionais de saúde e as famílias devem aproveitar as recomendações da OMS para ampliar as escolhas alimentares infantis. Uma ótima oportunidade para que cada país as adote como base e faça as adaptações necessárias.

São pontos de destaque da diretriz:

  1. O apoio à manutenção do aleitamento materno durante o período de introdução de alimentação complementar;
  2. A preocupação com o marketing abusivo de produtos que competem com a amamentação e influenciam nas escolhas das famílias;
  3. O alerta quanto ao uso excessivo e desnecessários de fórmulas infantis, compostos lácteos e “leites de crescimento”. Produtos que não apresentam vantagens nutricionais, têm maior custo, podem interferir de forma negativa na diversidade e formação do hábito alimentar da criança.
  4. O cuidado e flexibilidade quanto à época de introdução, tipo de alimento, forma de alimentação da criança, para criar uma alimentação saudável .

Algumas reflexões devem ser feitas com relação à nova diretriz e muitas perguntas ainda precisam ser respondidas e discutidas. O que mudou? O leite? As metodologias de pesquisa? Por que as fórmulas, que prometem benefícios nutricionais e são mais caras, "perdem" o lugar para o leite de vaca?

A dica de ouro é: faça escolhas saudáveis para seus filhos e alunos. Leite materno até os 6 meses e, a partir desta idade, ofereça “comida de verdade”. Frutas, legumes, verduras, proteínas, cereais, de preferência integrais, não ofereça alimentos ultraprocessados até, no mínimo, 2 anos de idade.

Referências:

  1. Diretriz OMS  2023  https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/373358/9789240081864-eng.pdf?sequence=1
  2. Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos - http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_da_crianca_2019.pdf
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019. 265 p.: Il.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Alimentos  regionais  brasileiros   /   Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. 484 p.: il.
  3. Fuchs GJ III, Abrams SA, Amevor AA; COMMITTEE ON NUTRITION. Older Infant-Young Child “Formulas”. Pediatrics. 2023 Oct 20:e2023064050.
  4. Fewtrell M, Bronsky J, Campoy C. Complementary feeding: A position paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on nutrition. J. Pediatr Gastroenterol Nutr. 2017; 64, 119-132.
  5. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamentos científicos de Nutrologia e Hematologia. Consenso sobre anemia ferropriva - Atualizações: destaques 2021. 26.08.21. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23172c-diretrizes-Consenso_sobre_Anemia_Ferropriva. pdf. 
  6. Brasil, Ministério da Saúde. Cadernos dos Programas Nacionais de Suplementação de Micronutrientes. Brasília: 2022.
  7. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/programas_nacionais_suplementacao_ micronutrientes.pdf. 
  8. “Fórmulas” para bebês mais velhos e crianças pequenas; https://publications.aap.org/pediatrics/article/152/5/e2023064050/194469/Older-Infant-Young-Child-Formulas?autologincheck=redirected
Escrito por
Luciana Pereira

Nutricionista com MBA em Gestão Pedagógica, Luciana possui 26 anos de experiência em alimentação escolar atuando como nutricionista de creches e escolas do RJ, como a rede de ensino CEL e o Colégio Franco Brasileiro.

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