Maternidade e paternidade

Como lidar com a primeira menstruação da minha filha?

Saiba como você pode se preparar para viver esse momento com mais leveza e naturalidade. Você está pronto(a)?

Comumente meninas, pais, mães e familiares vivem o momento da primeira menstruação (menarca) como algo ansiogênico e carregado de emoções.

Para a menina é algo novo, desconhecido, mas também, na maioria das vezes, algo já esperado. Afinal, ela não acontece de um dia para o outro. O corpo da menina começa a modificar e anunciar a sua chegada cada dia mais próxima. 

Embora o momento que isso irá acontecer ainda seja desconhecido, como a maioria das meninas já aguardam por isso, quando acontece, já é algo inundado de fantasias, falsas crenças e de representações simbólicas construídas pelo imaginário.

Mas se vocês pensam que isso acontece somente com as meninas, não é bem assim. A primeira menstruação de uma filha é algo que mexe e remexe as histórias individuais de cada mãe e de cada pai. 

Além das suas próprias histórias, a menarca revela o crescimento da filha, e consequentemente modifica os papéis de pai e mãe de alguém que passa a se inserir no que se chama “ficar mocinha”.  

Desmembrando a palavra, “moça” que descortina o crescimento e o próprio amadurecimento sexual da menina e a “inha” que não é tão moça assim e ainda é diminutivo, representando a “minha ou nossa filhinha”.  

Dessa forma, fica claro que esse é um lugar de transição, nem mais menina nem ainda mulher, e que tanto as meninas quanto seus pais se sentem inseguros e até mesmo amedrontados diante da nova situação.

Mas então, o que pode ser feito para que esse momento possa ser vivenciado de forma mais natural possível?

Como pais e mães podem se preparar para esse momento 

É importante entender e repassar para sua filha que menstruar é um sinal de saúde. É algo que se torna rotineiro na vida de uma menina/mulher e a acompanha por muitos anos. 

A menstruação evidencia o amadurecimento biológico, onde o corpo daquela menina está respondendo aos hormônios e se desenvolvendo como necessário para que no futuro ela possa decidir se deseja ou não se tornar mãe.

Além disso, nessa fase, a menina se depara com valores, atitudes, crenças, princípios e vontades que serão organizados e assumidos por ela, servindo de base para a seu processo de estruturação como pessoa.

Por isso, é fundamental tratar o momento de forma natural, dialogando e auxiliando na dissolução de fantasias. Conversar sobre o assunto sem tabus e com as informações necessárias auxiliam muito para que a menina possa vivenciar com mais tranquilidade esse momento. Inclusive, reconhecendo e acolhendo os medos, as angústias e o que pode vir a ocorrer como consequências desprazerosas como dores, mudanças de humor, etc. 

Como a menarca anuncia a sua chegada através de importantes transformações corporais é possível e ainda mais indicado que esse diálogo possa ser instalado antes mesmo do acontecimento, principalmente para que a menina já comece a se preparar e não se sinta tão desprevenida e desinformada. 

Quando as famílias adiam as conversas e as informações sobre o assunto, é provável que a menina obtenha através de colegas e grupos sociais, e que nem sempre são as pessoas mais indicadas para transmitir essas informações, já que fase ainda pode ser pouco conhecida por eles ou então pode conter impressões pessoais que estimulem ainda mais a angústia e a ansiedade da menina.

Um outro fator importante em relação à atitude de alguns pais é sobre compartilhar ou não a “novidade”. Muito embora esse seja um sinal de desenvolvimento e saúde, ele pode ser vivenciado pela menina como algo positivo, curioso ou até mesmo angustiante, provocando sentimentos diferentes.

Sendo assim, é importante que a menina decida com quem ela quer compartilhar esse momento. Afinal, é algo dela e íntimo. Diz respeito ao seu corpo, à sua privacidade. E isso é condição básica para que ela se sinta respeitada e favoreça o diálogo e a confiança com sua família.

Acompanhe esse primeiro momento e ensine-a a fazer uso do absorvente e a higiene nas trocas. Para as mães, esse momento pode ser bem curioso e até mesmo trazer leveza, relembrando sobre os seus primeiros ciclos, o que deu certo, o que faria diferente. 

Dessa forma, sua filha pode se sentir mais à vontade para aceitar o sentimento de estranheza e de falta de domínio com a situação. 

Para os pais, descobrir juntos ou até mesmo conversar se ela tem desejo de trocar e tirar dúvidas, notificar a mãe ou até mesmo estimular a filha a fazer isso pode ser uma saída para lidar com a sua própria ansiedade de não dominar o assunto.

E, atribuindo à menarca o lugar de desenvolvimento biológico saudável, caso a menina ainda não tenha ido a um ginecologista, introduza o assunto e agende essa consulta. Isso colabora ainda mais para que sua filha perceba que existe uma rede de acolhimento e suporte para ela nessa nova etapa da vida. 

E os pais, qual papel podem assumir nesse momento tão feminino?

Com a formação de novos modelos de famílias e ainda de novos modelos de relação entre filhos de pais separados, através da guarda compartilhada, ou de pais que assumem a guarda dos filhos, temos nos deparado com uma maior participação da figura paterna na vida de suas filhas. Sendo assim, esses também estão em iguais condições autorizados a falar sobre o assunto com a mesma naturalidade que a figura materna. 

É evidente que o pai não vai dispor das mesmas experiências que a mãe. No entanto, isso pode ser falado de um outro lugar, de um lugar de acolhimento. É preciso enxergar com empatia a nova fase que sua filha está adentrando, entender que mudanças de humor serão mais frequentes, assim como sintomas que interferem no dia a dia e na disposição, como cólicas, dores de cabeça, enjoos, entre outros.

E assim, independente de ser pai ou mãe, procurem descobrir junto à menina o absorvente que melhor se adapta à sua necessidade, auxiliem a organizar quantos absorventes levar na mochila da escola, etc. Isso gera sensação de acolhimento e confiança.

Conclusão 

Para concluir, é sempre bom lembrar que esse momento é mais uma oportunidade de encontro entre os pais e suas filhas. O desconhecido, nesse caso a primeira menstruação, insere a oportunidade de diálogo familiar, de naturalidade sexual, e de amadurecimento.

Recentemente, a Pixar lançou um filme de animação chamado "RED'', que tem como um dos objetivos falar sobre menstruação e diluir os tabus em torno do tema através de uma metáfora.

O lançamento do filme possibilitou que o assunto pudesse ser abordado em um filme infantil, diante das famílias, favorecendo a oportunidade de trazer naturalidade ao momento da puberdade, e o que as meninas jovens enfrentam diante das mudanças físicas e emocionais que o período da primeira menstruação acarreta.

Emma Thompson O'Dowd, especialista em saúde e bem-estar da instituição de caridade global para crianças Plan International UK, chama a inclusão da menstruação no filme de "maravilhosa". Ela desenvolveu uma pesquisa em torno do assunto e os resultados sugerem que 40% das meninas se sentem muito ansiosas e cerca de 30% se envergonham e querem esconder das pessoas quando menstruam pela primeira vez.

Por isso, precisamos naturalizar o momento com seus prazeres e com seus dissabores. Como tudo na vida, é bem e mal, bom ou ruim, depende do olhar que escolhemos diante das pessoas e das situações.

Que nossas meninas possam viver esse momento de forma real, com equilíbrio e como mais um rito de passagem rumo à sua construção subjetiva e individual.

Escrito por
Claudia Ferreira

Psicóloga pós-graduada em Psicopedagogia, Claudia possui 30 anos de experiência em psicoterapia com foco em crianças e adolescentes. Desde 2010, atua como psicóloga da rede de ensino Pensi (Eleva), no Rio de Janeiro.

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