Maternidade e paternidade

Como cortar e oferecer os alimentos às crianças para evitar engasgos?

Você sabia que cerca de 60% dos casos de asfixia são causados por alimentos? Saiba como oferecer os alimentos às crianças para evitar engasgos.

Você sabia que cerca de 60% dos casos de asfixia são causados por alimentos? No Brasil, o número de óbitos por engasgo em crianças, de 2009 a 2019, chegou a 2.148. Os acidentes por ingestão de alimentos causando obstrução do trato respiratório foram predominantes, com um total de 1.817 (84,6%). 

Crianças menores de 3 anos merecem atenção especial quanto aos alimentos a que são expostas, uma vez que essa faixa etária tem maior probabilidade de engasgo. Mas por que será que isso ocorre?


Por que as crianças são mais propensas à asfixia por alimentos?

Por volta dos 6 meses de idade, os primeiros dentes – os incisivos – começam a aparecer e até os 18 meses, os primeiros molares, responsáveis pela mastigação e moagem dos alimentos, já nasceram.

É importante saber que as crianças são dotadas de reflexos naturais involuntários que as protegem contra a aspiração de alimentos durante a deglutição. Tosse, fechamento da glote e reflexo de vômito são exemplos dessa defesa natural.

Mas apesar de todo preparo natural, as crianças são mais suscetíveis a engasgos do que os adultos porque há algumas limitações que as tornam mais vulneráveis:

  • A força do ar gerado pela tosse de uma criança é menor do que a força exercida por um adulto, fazendo com que esse reflexo seja menos eficaz para desalojar uma obstrução parcial das vias aéreas.
  • A maturidade do processo de mastigação e deglutição: embora os dentes já estejam presentes, as habilidades mastigatórias maduras levam mais tempo para estarem plenamente desenvolvidas. 
  • Além disso, as crianças possuem reduzido diâmetro das vias aéreas superiores. 
  • Fatores comportamentais como comer caminhando, comer correndo, comer conversando, comer dando risadas, comer rapidamente, mastigando pouco os alimentos ou ainda colocar grande quantidade de alimentos na boca, também colaboram para isso.

Quais alimentos são mais perigosos?

Alimentos com formatos ovalados, arredondados ou cilíndricos são os campeões para o risco de asfixia por apresentarem o mesmo diâmetro das vias aéreas superiores de uma criança.

Alimentos duros que exigem maior trituração e moagem também são mais perigosos devido a pouca capacidade de mastigação plena dos pequenos. 

Alimentos pastosos e pegajosos, com capacidade de “colarem” nas paredes da garganta também podem obstruir as vias aéreas e reduzir a passagem de ar.

Quais alimentos evitar ou redobrar o cuidado?

Dessa forma, os adultos devem ter muito cuidado ao oferecer alimentos que se encaixam nessas categorias:

  • Salsicha -  CAMPEÃ de asfixia segundo a Academia Americana de Pediatria. O corte tradicional em rodelinhas é o mais perigoso. Para aumentar a segurança, corte longitudinalmente em quatro pedaços e depois faça cortes de tamanhos irregulares. Não vai ficar muito bonito, mas certamente é mais seguro;
  • Amendoins, sementes, nozes e outras castanhas - evitar oferecer para crianças menores de 3, 4 anos (cada criança deve ser avaliada individualmente);
  • Pipoca, principalmente as mal estouradas;
  • Balas (formato tipo bala soft) e chicletes - Nunca dê para crianças. Elas são muito pequenas e muito fáceis de serem engolidas acidentalmente;
  • Pirulitos - É muito comum o pirulito se soltar do palito quando já está menorzinho e acabar gerando acidentes graves;
  • Pedaços grandes de carnes e queijos duros;
  • Marshmallows, caramelos e balas gelatinosas;
  • Geleia de amendoim e outros alimentos de consistência pegajosa, como cream cheese, brigadeiros, especialmente os com formato arredondado, com pequena dimensão, podem ser deglutidos mais rápido do que o previsto, provocando engasgo e até mesmo sufocamento. Evite em crianças pequenas. Mesmo quando oferecidos em colheres, podem provocar acidentes, por serem escorregadios dentro da boca.
  • Salgadinhos (principalmente duros como batatinhas e similares).

E especialmente para os menores de 2 anos, além dos alimentos acima, que não devem fazer parte da alimentação nessa idade, atenção especial aos abaixo listados:

  • Uvas inteiras e frutinhas pequenas como cereja, uva passas, mirtilos: A recomendação para reduzir os acidentes é cortar em 4 longitudinalmente e sempre tirar as sementes. No caso do mirtilo, especialmente pelo pequeno tamanho, é mais seguro oferecer somente a criança mais velhas;
  • Casca de frutas duras cruas (como a maçã e a pêra verde);
  • Vegetais duros crus e verduras cruas;
  • Alimentos em forma de cordão (exemplo: broto de feijão, espaguete, verduras cortadas em tiras como repolho ou couve).


Como cortar e oferecer os alimentos para evitar engasgos e asfixia?

Como dentre os perigosos há alimentos nutritivos e recomendados para todas as faixas etárias, é necessário um cuidado especial na forma de apresentação para que não haja risco de engasgo. 

  • Uvas cortadas na longitudinal (no sentido do comprimento) e sem sementes;
  • Vegetais duros como cenouras devem ser cortadas em palitos (no formato de batata frita);
  • Alimentos em forma de cordão como brotos, espaguetes, repolho, etc, devem ser bem picados;
  • No caso de frutas, como a maçã, se a criança já for maior, pode-se cortar em pedaços maiores e sempre supervisionar o processo de alimentação. Tirar a casca também reduz as chances de engasgo.
  • Nunca oferece alimentos em cubos (cubos de queijo, cubos de fruta geladinha estilo picolé), pois o risco de engasgo é grande em qualquer idade.
  • Se oferecer alimentos pegajosos como manteiga de amendoim ou cream cheese, passe sobre alguma superfície, como torrada, em pequena quantidade.
  • Por fim, o cozimento dos vegetais também reduz as chances de engasgo.

Conclusão

A maior forma de prevenção é ficar atento(a) na hora de oferecer a alimentação à criança. Preste atenção também aos passos abaixo na hora de oferecer os alimentos à crianças de qualquer idade, dessa forma você estará prevenindo engasgos.

  1. Nunca deixe a criança sozinha na hora da alimentação. Supervisão constante é obrigatória!
  2. A criança deve se alimentar sentada, sem distrações e correria.
  3. Não alimente a criança no carro em movimento ou com a criança em movimento.
  4. Corte os alimentos em pedaços pequenos, removendo sementes.
  5. Cozinhe vegetais para deixá-los com textura mais segura.
  6. Estimule a criança a mastigar devagar os alimentos.
  7. Nunca dê líquidos para a criança enquanto ela estiver com o alimento na boca. Espere ela engolir completamente o alimento antes de oferecer qualquer líquido.

Referências

Revista de Pediatria SOPERJ - Número atual: 21 (supl 1)(1) - Dezembro 2021- Estudo descritivo de óbitos por engasgo em crianças no Brasil /Descriptive study of deaths by choking among children in Brazil. Iara Oliveira Costa; Rawllan Weslley Alves-Felipe; Tiago Barbosa Ramos; Victor Bruno de-Lima Galvão; Michelle Sales Barros de Aguiar; Vinicius de Gusmão Rocha. DOI:10.31365/issn.2595-1769.v21isupl.1p11-14 

AP – American Academy of Pediatrics. Numbers of Food-Related Choking Incidents in Children Continue to Climb. AAP, 2013. Disponível em: https://publications.aap.org/pediatrics/article-abstract/132/2/275/31431/Nonfatal-Choking-on-Food-Among-Children-14-Years?redirectedFrom=fulltext

Medidas simples podem prevenir engasgo e asfixia em crianças - https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/dezembro/medidas-simples-podem-prevenir-casos-de-asfixia-por-engasgo-em-criancas

Escrito por
Luciana Pereira

Nutricionista com MBA em Gestão Pedagógica, Luciana possui 26 anos de experiência em alimentação escolar atuando como nutricionista de creches e escolas do RJ, como a rede de ensino CEL e o Colégio Franco Brasileiro.

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