Doenças e sintomas da infância

Como ajudar as crianças que sofrem com enjoos, tonturas e vômitos em viagens de carro

Com as férias chegando, muitas famílias decidem pegar a estrada. Mas quem nunca viajou de carro com crianças que se sentem enjoadas, tontas e, muitas vezes, até vomitam?

Nesse final de ano, muitas famílias decidem pegar a estrada. Seja para visitar aquele parente que mora a alguns km de distância e a gente só vê no Natal, seja para fugir da correria da cidade grande e buscar refúgio e descanso no litoral ou no interior.

Mas muitas vezes essas viagens de carro podem ser bem desafiadoras, especialmente com crianças. Quem nunca viajou de carro com crianças que se sentem enjoadas, tontas e, muitas vezes, até vomitam?

Sabemos que esse sintoma é muito comum e que muitos papais e mamães não sabem o que fazer na hora do aperto. Por isso, nesse texto você descobrirá informações importantes para que seu filho ou filha não sofra nas próximas viagens em família. Aproveite (o texto e o fim de ano)!

Você já ouviu falar em cinetose?

O enjoo de movimento, também chamado de cinetose, caracteriza-se por um quadro de náusea, podendo estar associado a vômitos, tontura e outros sintomas que geram desconforto intenso no corpo humano. 

Costuma ocorrer em pessoas que estão em movimento de forma passiva, isto é, em locomoção via carros, aviões, barcos, navios, trens e quaisquer outros meios de transporte. Essa doença tem maior incidência em crianças mas adultos também sofrem com isso. Com o avançar da idade, os sintomas da cinetose podem ser mais discretos ou até desaparecer. 

A leitura durante trajetos, o uso prolongado de telas e de óculos de realidade virtual são outros gatilhos comuns para a cinetose.

Mas o que causa essa tal de cinetose?

A cinetose pode ocorrer quando o sistema nervoso central recebe sinais desconectados dos sistemas visual, vestibular e proprioceptivo.

Quando nos locomovemos durante uma caminhada, por exemplo, nos movimentamos intencionalmente com a possibilidade do nosso cérebro assimilar as informações da visão, do ouvido interno e da propriocepção. Com a harmonia do trabalho entre os três sistemas não há surgimento de sintomas característicos da cinetose. 

Quando nos movimentamos de forma passiva em veículos automotores como carros, aviões ou navios, essa comunicação não ocorre de forma sincronizada. Essa falha acontece porque o nosso organismo não está “se movendo" por conta própria, afetando a sinergia entre os sistemas.

Os sintomas e o quadro clínico da cinetose surgem, então, nas situações em que o cérebro não consegue interpretar o estado “real” de movimento do corpo humano.

Fatores de risco para a cinetose

Apesar de todas as pessoas serem susceptíveis ao desenvolvimento de cinetose, algumas características específicas já foram associadas como de maior risco para a doença. Dentre elas, destacam-se:

  • História familiar de cinetose;
  • Sexo feminino;
  • Crianças;
  • Gravidez;
  • História prévia pessoal ou familiar de labirintite;
  • Dor de cabeça (cefaleia) ou enxaqueca;
  • Doenças prévias dos sistemas gastrointestinal e neurológico;
  • Ansiedade etc.

Note, ainda, que o movimento exposto ao paciente também influencia na ocorrência de cinetose sem, no entanto, estar necessariamente relacionado à intensidade dos sintomas. 

Viagens de navio costumam apresentar maiores índices de pessoas referindo enjoo, com intensidade de sintomas variando desde leves a moderados e graves. Viagens de avião também tendem a se apresentar como fator desencadeador para a cinetose a muitas pessoas.

Principais sintomas da cinetose

Os sintomas mais comuns da cinetose são:

  • Enjoos ou náuseas;
  • Vômitos;
  • Tonturas
  • Vertigens;
  • Sudorese e sensação de calor;
  • Cefaleia (dor de cabeça) ou enxaqueca;
  • Arrotos (eructações);
  • Sialorreia (produção excessiva de saliva);
  • Palidez;
  • Nistagmo (movimento oscilatório do globo ocular);
  • Fadiga;
  • Dificuldade para ler ou assistir televisão;
  • Distúrbios na visão, com dificuldade em focar ou visão duplicada;
  • Problemas neurocognitivos, afetando a memória e o raciocínio.

Os sintomas tendem a melhorar com o avançar da idade e a repetida exposição ao gatilho  desencadeador da cinetose.

Como descubro se minha criança tem ou não cinetose?

O diagnóstico da cinetose deve ser realizado pelo médico de rotina que acompanha o paciente. Em alguns casos, o otorrinolaringologista – especialista em cinetose – pode ser o mais indicado para o diagnóstico e tratamento. No caso das crianças, o pediatra, o neuropediatra ou o médico de família também podem auxiliar na condução clínica. 

Como posso prevenir esses sintomas?

A estratégia para prevenir a cinetose deve ser pautada na compreensão das características e das causas da doença e na busca por alternativas para que ela não aconteça. 

Nesse contexto, algumas ações podem auxiliar no interrompimento do ciclo de desconexão entre a visão e os sistemas vestibular e proprioceptivo e amenizar os sintomas.

Abaixo, separamos algumas dicas durante viagens para você implementar com sua família:

  • Evite alimentos pesados antes de viagens de avião ou durante o trajeto – principalmente os ricos em gorduras e ultraprocessados;
  • Evite odores fortes;
  • Evite locais com alta temperatura;
  • Evite fumar e ingerir bebidas alcoólicas;
  • Evite atividades físicas em movimento;
  • Evite a leitura, os jogos e o uso de telas de forma excessiva (principalmente se estiver como “carona” no carro);
  • No navio, evite cabines sem janelas;
  • No avião, se possível, sente-se na janela e olhe para o exterior, caso contrário, busque os assentos do corredor (note que os lugares próximos às asas sofrem menos movimentos e devem ser preteridos);
  • No carro, mantenha, se possível, as janelas abertas e deixe as crianças sentadas em cadeiras altas, para que possam olhar para o exterior;
  • Não sente de costas em direção contrária ao veículo em movimento;
  • Busque focar a visão para locais distantes pela janela;
  • Evite fazer viagens de ônibus em pé.

A cinetose tem tratamento?

Em primeiro lugar, devemos investir nas medidas preventivas citadas acima para a doença. Para os casos que a prevenção não é capaz de evitar os sintomas ou, ainda, naqueles que os sintomas já se encontram em andamento, temos alguns medicamentos que podem ajudar.

Os efeitos destes sinais conflituosos que causam a cinetose. Estes remédios funcionam melhor se tomados preventivamente, ou seja, antes dos sintomas surgirem. Algumas opções incluem:

  • Escopolamina;
  • Anti-histamínicos, como o Dimenidrinato; e
  • A associação de Prometazina com Cafeína.

Note que a Ondansetrona – conhecido medicamento de uso sublingual – não se apresenta como uma das melhores opções preventivas para a cinetose. Contudo, tem um ótimo efeito no combate às náuseas.

Para melhor efeito do tratamento medicamentoso, sugerimos que seu uso seja sempre orientado e supervisionado por um médico. Se possível, para melhores resultados, use de forma preventiva, ou seja, antes do surgimento dos sintomas.

Existem, ainda, técnicas de tratamento não medicamentosas com pouca evidência científica respaldando seu uso. Dentre elas, os comprimidos de gengibre apresentam bons efeitos segundo relatos de alguns pacientes. Outros se beneficiam do uso de pulseiras compressivas nos punhos. No entanto, as alternativas não medicamentosas não costumam resolver as queixas clínicas na maioria dos casos.

Conclusão

Mamães e papais, agora vocês já sabem como se preparar para evitar o enjoo das crianças nas próximas viagens. Em caso de cinetose, sugerimos que procure o médico imediatamente. Com o devido apoio profissional e com todas essas informações, é possível traçar condutas para prevenir ou amenizar seus sintomas. Boas férias e sucesso nas viagens!

Referências

JAMESON,J. L. et al. - Medicina interna de Harrison. 20. ed.

Motion sickness – UpToDate.

Car Sickness – American Academy of Pediatrics.

Prevention and Treatment of Motion Sickness – American Academy of Family Physicians.

Escrito por
Dr. Rafael Kader

Médico e Doutorando em Ciências Médicas pela UFRJ, Rafael já foi membro do corpo clínico do Hospital Samaritano e da Rede D’Or e possui 7 anos de experiência em projetos sociais de saúde escolar.

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