Doenças e sintomas da infância

Combate ao câncer infantil: conhecimento como forma de prevenção

O câncer na infância e adolescencia é uma realidade global. O dia 15/02 é marcado pelo Dia Internacional de Combate ao Câncer Infantil. No artigo, reforçamos importância da identificação de sinais, do diagnóstico precoce, os desafios no Brasil e a necessidade de conscientização e apoio emocional para pacientes e familiares.
cancer infantil criança no hospital com medica combate ao cancer infantil

Desde 2002, o dia 15 de fevereiro é o dia internacional de combate ao câncer infantil, data criada pela Childhood Cancer International (CCI), instituição sem fins lucrativos criada em 1994, cuja missão é dar suporte ao tratamento de câncer infantil ao redor do mundo todo. O câncer infantil é uma doença que, mesmo com os avanços tecnológicos em detecção e tratamento, é muito temida, pois lidera as causas de morte de crianças e adolescentes (de 0 a 19 anos) no Brasil.

Na população adulta, existem fatores de risco que sabidamente podem causar câncer (carcinogênicos), como o tabagismo. Porém, nas crianças e adolescentes, o papel dos fatores ambientais ou externos no desenvolvimento do câncer é mínimo. Ou seja, não existem medidas efetivas de prevenção primária (atrelada aos fatores de risco) para impedir o aparecimento do câncer na faixa etária entre 0 e 19 anos - exceto a vacinação contra hepatite B, que é eficaz na prevenção do desenvolvimento do hepatocarcinoma (câncer de fígado). Nesse cenário, o diagnóstico precoce é a forma mais efetiva de combater o câncer infantil e salvar vidas.

Estimativas mostram que a taxa de cura do câncer infantil, nos países desenvolvidos, chega a 80%. No Brasil, essa taxa é menor, cerca de 50%, devido a vários fatores, como a falta de rastreamento e diagnóstico, diagnóstico tardio, dificuldade do acesso ao atendimento básico de saúde, ou até a qualidade do atendimento.

menina no hospital sendo cuidado, combate ao cancer infantil

Ações mais importantes que contribuem com o diagnóstico precoce

  • Atuação efetiva da rede de Atenção Básica no acompanhamento e promoção da saúde da criança e do adolescente, possibilitando a detecção oportuna de sinais e sintomas, além de situações de risco;
  • Divulgação de informações para profissionais e para a população, alertando a importância do diagnóstico precoce.

Em São Paulo (ANTONELI et al., 2004) e em Honduras (LEANDER et al., 2007), campanhas de diagnóstico precoce para o retinoblastoma foram capazes de diminuir o número de pacientes com diagnóstico avançado (doença extraocular) e o tempo de encaminhamento, contribuindo para a melhora nas taxas de cura dessa neoplasia;

  • Programa de educação continuada para profissionais da Saúde da Família, e que lidam com cuidados primários sobre os sinais e sintomas da doença.

Em estudo realizado em Recife, foi observado conhecimento insuficiente dos sinais e sintomas mais comuns do câncer pediátrico por profissionais da rede, apontando para a necessidade de se implementar mais estratégias de educação (WORKMAN et al., 2007).

  • Aumento da comunicação entre os serviços de cuidado primário e os especializados para acelerar o encaminhamento da criança com suspeita de câncer para que o diagnóstico seja estabelecido o mais rápido possível, o que requer melhor organização da rede. 

As formas mais frequentes de câncer na infância e na adolescência são as leucemias, principalmente a leucemia linfoide aguda, sendo também muito recorrentes os tumores de Sistema Nervoso Central (SNC). Na cidade de São Paulo, existe um registro de base hospitalar de câncer da Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP), em que podem ser verificadas informações sobre tipos mais frequentes de câncer na população brasileira de 0 a 18 anos, no período de 2000 até junho de 2008: 25,7% dos casos foram de leucemias, 16,3% de linfomas e 12,8% de tumores do SNC (FOSP, 2008).

O fato de, no Brasil, os tumores do SNC ocuparem o terceiro lugar na incidência, depois das leucemias e dos linfomas, além de demonstrar a necessidade de mais estudos que possam explicar esse quadro, pode sugerir que existam problemas de subdiagnóstico no caso dos tumores de SNC, já que, nos países desenvolvidos, esse grupo de neoplasias é o segundo mais frequente.

menino no hospital sendo cuidado, combate ao cancer infantil

É preciso ter atenção aos sinais

Como vimos anteriormente, o câncer infantil, em geral, não tem relação com fatores de risco ou externos, por isso, é de extrema importância que os adultos ao redor da criança (familiares, professores e colaboradores da escola, e outros) estejam atentos a possíveis sinais, pois o diagnóstico precoce é o fator que oferece maior chance de sucesso no tratamento.


Alguns dos principais sinais são:

  • Perda de peso contínua e inexplicável;
  • Dores de cabeça com vômito de manhã;
  • Aumento do inchaço ou dor persistente nos ossos ou articulações;
  • Protuberância ou massa no abdômen, pescoço ou qualquer outro local;
  • Desenvolvimento de uma aparência esbranquiçada na pupila do olho ou mudanças repentinas na visão;
  • Febres recorrentes não causadas por infecções;
  • Hematomas excessivos ou sangramento, geralmente repentinos;
  • Palidez perceptível ou cansaço prolongado.

A importância do cuidado psicológico

O câncer na infância e adolescência é um tema delicado para ser tratado dentro e fora de casa, principalmente porque a infância é o momento da vida que menos associamos a questões desse tipo. A criança, mesmo muito jovem, tem consciência do risco de morte, ainda que de forma abstrata, e tem dificuldade de abordar esse tema, muitas vezes mais difícil inclusive para os adultos.

Identificamos na família a função de proteção e cuidado sobre os membros que a constituem, e passar por uma situação delicada como essa vai além dessa proteção familiar. Assim, família e criança são profundamente afetadas em um caminho longo e assustador. Desde o diagnóstico até o fim do tratamento, os envolvidos sofrem física e emocionalmente. Medo da dor, medo da morte, sofrimento, mutilação e insegurança em relação ao futuro são emoções muito comuns. A descoberta do câncer transforma vidas e rotinas, dá novos significados às relações e cada família reage a essa vivência à sua forma.

O papel dos familiares é fundamental no tratamento do paciente. Aspectos como resiliência e positividade têm relação íntima com o bem estar e bons resultados nos tratamentos. Além disso, é essencial que os profissionais de saúde compreendam os aspectos emocionais envolvidos na doença, para oferecer um cuidado humano, empático e cuidadoso com todos os envolvidos.

A estabilidade emocional e social do indivíduo é fragilizada pelo comprometimento de funções fisiológicas e da vida social, podendo levar à baixa autoestima, ansiedade, depressão e medo de rejeição. As mudanças na percepção da imagem corporal, nos papéis sociais e na qualidade de vida também estão presentes nesse momento, e aumentam significativamente a quantidade de tensões a serem administradas em um momento emocionalmente instável.

O cenário é complexo, por isso, é importante que todos juntem esforços para dar espaço para resiliência, suporte, esperança e fé. Família e paciente passam pelo desafio não somente por enfrentar a doença, mas também procurar forças apesar dela. 

É importante proporcionar momentos de conexão. Brincadeiras em família, jogos que respeitem a condição física da criança, visitas de amigos em casa, passeios ao ar livre, de acordo com a disposição e desejo da criança, leitura em voz alta, filmes em família, entre outras atividades, podem ser momentos significativos e importantes de acolhimento, que podem proporcionar alívio para os envolvidos nesse turbilhão de emoções que é ter um membro familiar adoecido.

Uma ajuda especializada de um psicólogo pode desempenhar um papel crucial no apoio emocional tanto para a criança quanto para a família durante o tratamento do câncer infantil.

Instituições de referência

No mundo todo existem diversas instituições cujo objetivo é o combate ao câncer infantil. Essas instituições promovem informação e projetos sociais para levar o tratamento de qualidade a todos, além de campanhas de conscientização e informação de qualidade de fácil acesso para todos, seja um profissional da saúde ou não.

Aqui no Brasil, temos algumas instituições importantes, como o GRAAC, a Casa Ronald McDonald, além do projeto “De Olho nos Olhinhos”, criado pelo jornalista Tiago Leifert e sua esposa Daiana, após a detecção de retinoblastoma em sua filha Lua, de apenas 11 meses. Essas instituições têm um importante papel de conscientizar e oferecer mais informação, mas também de fortalecer a comunidade, afinal, ninguém está sozinho na luta contra o câncer!

Referências:

Diagnóstico precoce do câncer na criança e no adolescente - Ministério da Saúde (em pdf)

INCA - Instituto Nacional do Câncer

GRAAC

CCI

Casa Ronald McDonald

Escola Paulista de Medicina - UNIFESP

FIOCRUZ

Biblioteca Virtual - Ministério da Saúde

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