Saúde e bem-estar

10 dúvidas mais comuns sobre a alimentação de crianças e introdução alimentar

Quais são os métodos de introdução alimentar e qual o mais indicado? Como lidar com a seletividade alimentar e ajudar a criança a comer?

A introdução alimentar e a alimentação das crianças normalmente são pautas repletas de dúvidas e tentativas. Quais são os métodos de IA e qual é o melhor? Como lidar com a seletividade alimentar?

Além disso, é preciso levar em consideração que é a partir da introdução alimentar que a criança vai formar hábitos que se estenderão ao longo da vida. Promover bons hábitos alimentares desde a infância é benéfico também para a fase adulta pois, muitos dos hábitos alimentares adquiridos na infância perpetuam-se com a idade.

Ter uma alimentação saudável na primeira infância (que inclui crianças de zero a cinco anos de idade) contribui para o crescimento e desenvolvimento da criança, bem como para a prevenção de doenças.

Crianças bem alimentadas têm maiores chances de ficar mais interessadas nas atividades educativas além de mais concentradas, com mais energia para brincar e se divertir.

Sendo assim, vamos conferir quais são as principais dúvidas sobre a alimentação de crianças e introdução alimentar?

Introdução alimentar

Na introdução alimentar, o principal objetivo deve ser ensinar o bebê a comer e mostrar a ele a maior diversidade de alimentos possível, para que ela possa experimentar diferentes sabores, texturas, aromas e cores.

A introdução alimentar deve ser uma fase divertida para a criança, afinal, até então o único alimento que ela conhecia era o leite. Isso faz com que tudo seja novidade para ela. 

1. Como saber se o bebê está pronto para a  IA?

Existem dois fatores que você deve observar para saber se é o momento certo de começar a oferecer a alimentação: a idade do seu bebê e se ele apresenta os sinais de prontidão.

No que diz respeito à idade, para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a introdução alimentar complementar pode ser realizada a partir de 6 meses de idade, mantendo-se também o aleitamento materno por 2 anos ou mais.

Quem determina a aptidão do bebê para a IA é a maturidade do sistema digestivo e alguns sinais que o bebê dá, por exemplo, quando o bebê não empurra os alimentos com a língua, quando leva brinquedos e objetos à boca, quando consegue sentar sem apoio, quando mostra interesse pelos alimentos dos adultos, quando tem o controle total da cervical ao ficar de bruços, etc. Esse sinais normalmente ocorrem por volta dos 6 meses de idade.

2. Quais são os métodos de introdução alimentar e qual o mais indicado?

Método tradicional

No método tradicional, é realizada a introdução gradual dos alimentos (amassados ou picados em pedaços bem pequenos) na rotina do bebê com supervisão do adulto. Nessa abordagem, os adultos oferecem a refeição e tem o controle da alimentação da criança: quantidade, qualidade, ritmo e duração.

BLW (Baby-led weaning)

Nessa abordagem, a introdução é feita de forma gradual e natural propondo a auto-alimentação do bebê, ou seja, sem a interferência ou o auxílio dos pais ou cuidadores. A oferta de alimentos é feita em pedaços maiores para o bebê experimentar e descobrir texturas e sabores com as próprias mãos.

Participativo

Nessa terceira opção, o método participativo une os conceitos das duas abordagens acima. A combinação da alimentação independente e da alimentação assistida permitem tanto a participação do bebê quanto o gerenciamento e supervisão dos pais na alimentação.

Não existe método mais indicado, converse com seu pediatra para entender qual se adequa melhor ao seu caso.

3. A partir de que idade posso oferecer água ao bebê? 

A água pode ser oferecida para bebês a partir dos 6 meses de idade, momento em que também ocorre a introdução dos alimentos.

Quando o assunto é líquido na alimentação do bebê, opte pela água sempre. Não há motivos para oferecer outros líquidos como sucos e outras bebidas, que não sejam a água.

Mas isso quer dizer que as outras bebidas não são permitidas? Algumas são sim. Confira quais são permitidas:

  • Sucos: não devem ser oferecidos antes de 1 ano de idade. Prefira oferecer as frutas em pedaços ou amassadas. Se você não tem costume de tomar suco em casa, então não tem porque oferecer mesmo após 1 ano de idade. Seu bebê não conhecerá a textura da fruta, não aprenderá a mastigar e não terá contato com o alimento.
  • Chás: se não tiver cafeína (chá preto, mate), não tem problema oferecer ao bebê – desde que sem adição de açúcar. Mas, novamente, não há motivos para oferecer chás no lugar da água. 
  • Água de coco: pode ser oferecida de vez em quando, sempre em pequena quantidade e nunca em substituição à água.

4. Por qual refeição ou alimento começar? 

Comece pela refeição ou alimento que a família tenha maior disponibilidade de tempo para oferecer. Não existe grupo alimentar correto para se iniciar a alimentação complementar. Você tanto pode optar por começar pela refeição principal quanto pelas frutinhas!

A dica de ouro é: respeite o tempo do bebê.

A introdução alimentar deve ser lenta e gradual! Pode levar um tempinho até o bebê entender que os alimentos sólidos oferecidos para ele saciam e matam sua fome.

No início ele vai comer muito pouquinho e o leite ainda vai ser responsável por grande parte da sua nutrição. E está tudo bem, afinal, ninguém aprende a ler, escrever ou andar de uma hora para a outra, não é? 

Durante a fase da introdução alimentar, o bebê está criando a sua memória do paladar. Portanto, é importante que ele seja apresentado à maior variedade possível de alimentos naturais garantindo assim o consumo de todos os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento.

5. Na introdução alimentar, em qual momento devo oferecer leite materno ou mamadeira? 

Sempre após o oferecimento do alimento novo, para que o bebê possa experimentá-lo com fome. Ah, uma dica de ouro: ofereça mais vezes o mesmo alimento, mesmo que o bebê não goste de primeira, beleza?

Alimentação infantil

Mesmo após a introdução alimentar, a alimentação infantil ainda é repleta de dúvidas e inseguranças. Vamos convidar quais são as principais dúvidas?

6. Como saber se o que o meu filho comeu é suficiente?

Uma rotina alimentar e de horários bem definida permitirá que a criança experimente a sensação de fome e saciedade, e a alimentação será guiada de acordo com essas sensações. 

Os pais devem ser responsáveis pela qualidade nutricional da alimentação e a criança pela quantidade aceita.

7. O que evitar durante as refeições?

- Não force a criança a comer, pois a criança poderá criar uma impressão negativa sobre a alimentação ou aquele alimento.

- Não elogie ou critique a criança por comer demais ou de menos. A criança deverá comer a quantidade que a saciar, o que não significa que é a quantidade que você tem expectativa que ela coma.

- Não use a comida como recompensa ou expressão de sua afeição. A criança associa a alimentação como algo que pode gerar recompensas, e não como uma parte importante da rotina dela.

- Evite distrações durante as refeições (tv, telefones, tablets), já que a criança precisa ter atenção plena ao que ela está comendo.

8. O que fazer se meu filho não demonstra interesse em comer?

Em primeiro lugar, e importante avaliar o que está acontecendo. Podem existir questões emocionais como ansiedade, tristeza, raiva, insegurança, etc. Afinal, a criança está passando por um processo de desenvolvimento e de mudanças constantes, o que pode gerar alguns conflitos.

Agora, se a criança não quer comer, mas não está passando por nenhum problema emocional, é interessante considerar possíveis questões de saúde. Algumas condições físicas afetam o apetite e causam a recusa alimentar. São elas:

  • Dores físicas: dores estomacais, cólicas, enjoos ou algum desconforto após as refeições.
  • Falta de apetite por não estar com fome: se a criança não estiver com fome, ela vai se recusar a se alimentar.
  • Alterações no paladar: hipersensibilidade oral (a criança tem preferência por determinada textura ou sabor de determinados alimentos) e hipossensibilidade oral  (a preferência é pelos alimentos que têm sabores mais intensos e conseguem despertar melhor o paladar).

9. Como lidar com a seletividade alimentar e ajudar a criança a comer?

Antes de mais nada, precisamos ampliar nosso olhar antes de tudo e entender que a habilidade e conforto para comer são pré-requisitos para que a criança amplie suas escolhas alimentares e tenha uma relação de maior prazer durante as refeições. É preciso avaliar se:

  • A criança está confortável no ambiente?
  • Tem habilidade para comer o que está sendo ofertado para ela?
  • Sabe o que está comendo?
  • Consegue interagir com o alimento?
  • Qual a comunicação que ela estabelece?

Quando a criança afirma que não gosta de alguma coisa, a melhor alternativa é buscar novas formas de preparo e apresentação para que ela tenha opções. 

Porém, se de fato não agradar o paladar, faça substituições oferecendo os nutrientes essenciais trocando um alimento por outro. 

O mais importante é não forçar para que a criança não desenvolva uma recusa cada vez maior, o que pode fazer com que ela tenha aversão pela refeição como um todo. 

10. Meu filho come demais. O que fazer?

Em primeiro lugar, precisamos avaliar se a criança come por compulsão ou se come de forma exagerada. A compulsão é uma doença, e precisa ser tratada com acompanhamento multidisciplinar. 

Já o exagero ou a gula são hábitos que só conseguiremos reverter com mudanças nos hábitos alimentares não só das crianças, mas das famílias. Afinal, a criança é fruto do meio em que vive.

Como fazer uma mudança alimentar na criança, se o exemplo que a família dá não é adequado? Ao ver a família se alimentando mal, a criança tomará isso como referência, de que isso seja o correto. E não é! Aí a importância do modelo parental.

Os pais que oferecem uma alimentação saudável aos filhos não devem se sentir culpados caso percebam que seus filhos estejam demonstrando algum tipo de distúrbio diante da comida. Mas é legal reavaliar alguns hábitos para que, desde cedo, as crianças construam uma boa relação com os alimentos. 

Veja algumas dicas.

  • Estabelecer uma rotina alimentar definida.
  • Fazer as refeições à mesa em família.
  • Avaliar a qualidade alimentar - priorizando oferecer comida de verdade sempre!
  • Respeite a fome e a saciedade da criança.
  • Jamais faça dieta restritiva para a criança. A proibição pode ser um primeiro passo para a compulsão alimentar infantil.
  • Se seu filho está acima do peso, tire um pouco o foco da imagem corporal e direcione a outras qualidades: inteligente, corajoso, amigável, generoso, etc.
  • Estimule e propicie a prática da atividade física que a criança tenha interesse.
  • Ouça a criança. Procure entender de onde vem essa necessidade de comer demais.

Construir uma relação boa com a comida na infância é algo grandioso, que será levado por toda a vida!

11. Bônus: Meu filho come bem e não ganha peso. O que fazer?

Estar abaixo do peso não é o mesmo que ser magro ou esguio. Algumas crianças têm uma constituição física esguia e a mantêm com uma dieta bem balanceada e atividade física. Isso é normal e saudável. 

No entanto, um verdadeiro baixo peso pode ser um sinal de problemas alimentares, de saúde ou emocionais. 

A causa mais comum do déficit de ganho de peso é sem dúvida a ingestão calórica insuficiente, seguido da má absorção de nutrientes devido à infecções, alergias alimentares e problemas intestinais, endócrinos, cardíacos, pulmonares e hepáticos que podem levar ao aumento do metabolismo basal.

Se após avaliação com o especialista que acompanha a criança tudo estiver bem, é hora de tentar algumas estratégias para ajudar no ganho de peso:

  • Estimule o consumo diário de frutas, verduras e legumes;
  • Ofereça uma alimentação variada com todo os grupos alimentares;
  • Convide a criança a preparar as refeições iniciando pelos alimentos que sejam de sua preferência e inserindo novos alimentos;
  • Evite açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Use sal com moderação. 

Caso você tenha dúvidas, você deve consultar um nutricionista.

Referências 

Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Departamento de Promoção da Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019.

Ministério da Saúde 2002 – Dez passos para uma alimentação saudável para crianças brasileiras menores de dois anos.

Escrito por
Luciana Pereira

Nutricionista com MBA em Gestão Pedagógica, Luciana possui 26 anos de experiência em alimentação escolar atuando como nutricionista de creches e escolas do RJ, como a rede de ensino CEL e o Colégio Franco Brasileiro.

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